CFP: Vol. 1 No. 1: Fazer-se Media: operatividade e estruturas medialógicas
De acordo com Wolfgang Ernst (2016), os media só existem enquanto media operativos e, portanto, activos, isto é, agenciais. E, com um horizonte mais amplo, já André Leroi-Gourhan (1964) assinalava que apenas se pode compreender a técnica na forma de cadeias operativas compostas por gestos e ferramentas, cadeias essas organizadas por uma sintaxe que articula fixidez e flexibilidade. Entre uma formulação e outra, encontramos a figura da operatividade que, para além de descrições essencialistas ou de distinções binárias, enfatiza os processos de co-constituição e de performatividade através dos quais as operações, enquanto forças ontogenéticas materiais, produzem tanto o real como o simbólico, instanciando limites, interfaces e infra-estruturas que constituem articulações do real (Siegert, 2015).
A partir da sua aplicação original nos contextos do complexo militar-securitário e da logística (Parikka, 2023), a lógica da operatividade seria ampliada para o domínio das modalidades de controlo político (Massumi, 2015), da cibernética e dos arquivos, da visualização do mundo e da produção do visual, dos media tecnológicos e da lógica algorítmica da cultura computarizada (Friedrich; Hoel, 2021). Trata-se, no particular, de medir, calcular, codificar, dispor ou distribuir ou, no geral, de optimizar e abstrair, espacializando e temporalizando, planetarizando e calibrando, de acordo com determinadas estruturas, ritmos e princípios de funcionamento, os quais, pelo seu automatismo, tendem para a opacidade.
Harun Farocki (2004), numa análise que pode ser expandida para além dos usos militares das imagens que lhe servem de mote, propõe a noção de imagens fantasmas/operativas, imagens que não representam um objecto, mas que, em vez disso, são parte de uma operação. Farocki refere-se a imagens cuja função primária é participarem em operações de controlo, de detecção, de inspecção, de medida, de geolocalização, de rastreamento, de alvo, de supervisão, de activação, etc., formando aquilo que considera ser um inconsciente visível produzido por olhos automáticos. São, assim, imagens que começaram a fazer coisas no mundo em vez de apenas nos devolverem imagens dessas coisas ou de simplesmente as documentarem.
Na exterioridade espectral que se subentende em Farocki, encerra-se algo não apenas relativo às imagens, mas a todo o espaço das operações técnicas que precede tomadas de acção e que conecta a própria possibilidade de todas as subjetividades, um espaço profano que se situa fora, numa estrutura medialógica não localizada e num horizonte de estranheza. A alteridade atravessa essa estrutura, a qual não é totalmente controlada nem representável, mas que, ainda assim, insinua superfícies de desejo, de poder, de esteticização, de desvio e de significação latente.
Entre as ambivalências possíveis, assume-se, apesar de tudo, que pensar a operatividade é pensar a qualidade daquilo que se faz media, assumindo que são os media e a sua operatividade geral que constituem as condições a partir das quais os próprios media e o real são reconhecíveis e pensáveis.
Convidamos ao envio de propostas que articulem abordagens no âmbito da teoria dos media, do estudos visuais, da filosofia da técnica, da cibernética ou das práticas artísticas contemporâneas e que possam contemplar hipóteses temáticas tais como:
- Técnicas culturais e ontologias operativas no contexto da teoria materialista dos media e das teorias do dispositivo;
- Genealogias militares, cibernéticas e logísticas da operatividade;
- Ontologias processuais no pensamento pós-humano;
- Diagramas, tabelas, interfaces e outras formas de mediação operativa;
- Visualidade algorítmica, cultura do software e regimes de mediação;
- Automatização dos arquivos;
- O papel da opacidade, da espectralidade e da alteridade na constituição mediada do visível;
- Práticas artísticas e curatoriais que expõem ou intervêm nas lógicas operativas das imagens e dos media.
As propostas poderão abordar estes temas por via teórica, historiográfica, crítica ou prática, incluindo estudos de caso, reflexões metodológicas ou ensaios visuais.
Chamada para artigos: até 2 de junho de 2025
Comunicação das decisões aos autores: final de junho de 2025
Segunda ronda de revisão e edição: final de julho de 2025
Publicação: setembro de 2025
Por favor, consulte as informações de registo e submissão em: https://revistas.ulusofona.pt/index.php/caleidoscopio/about/submissions.