CFP: Vol. 1 No. 2: O sonho da razão digital? Deambulações em redor uma máquina criativa na era da IA
Quando Francisco Goya gravou «El sueño de la razón produce monstruos» (1799), alertou que o sonho da razão está longe de ser ordenado e previsível. Mas qual é a loucura e a ignorância hoje que sonha com racionalidades algorítmicas e máquinas criativas? Pela relação estatística ambígua da IA com as racionalidades actuais, grandes modelos de linguagem emergem como novos monstros de sonhos antigos de máquinas criativas, não através do abandono da lógica, mas através do seu excesso estético hiper-racional e muitas vezes hiper-realista e da escrita automatizada codificada.
Estas «criaturas» sintéticas geradas computacionalmente, ou o que alguns chamam de meios espectrais (Sconce, 2000), são treinadas numa vasta gama de arquivos textuais e culturais da humanidade, bem como em vestígios digitais. Isto inclui imagens, sons, vozes, interacções sociais, gestos e várias formas de arte, literatura e cinema, juntamente com dados transmediais espectrais (Blackman, 2019). Apesar deste extenso treino, estas entidades não compreendem nada; geram ficções hiper-realistas e hiper-personalizadas com certeza estatística.
O resultado é uma manifestação que pode assemelhar-se ao pensamento, existindo estranhamente entre a consciência e o não-consciente, produzindo «dumb meaning» (Bajohr, 2023) ou «mean images» (Steyerl, 2023). Essas criações facilitam o diálogo entre encontros humanos e não humanos e levam a produções paradoxais de artefactos sem um autor claro (Irmak, 2024) e formas de autoria que existem independentemente dos autores tradicionais.
Esta edição especial examinará essas sombras mediais da realidade e monstros racionais da escrita automatizada — sejam entidades genuínas ou meras acumulações de máscaras — explorando as suas genealogias, infraestruturas e efeitos transformadores na cultura literária e mediática e dentro das artes mediáticas (generativas) e da filosofia. Convidamos estudos que explorem questões fundamentais sobre a autoria, incluindo argumentos e escrita de guiões, criatividade e processos de produção literária e outras formas de produção artística por meio de estruturas teóricas rigorosas, análises empíricas e/ou reflexões críticas sobre as implicações da IA para a cultura literária e mediática.
Convidamos ao envio de propostas que articulem abordagens no âmbito da teoria dos media, do estudos visuais, da filosofia da técnica, da cibernética ou das práticas artísticas contemporâneas e que possam contemplar hipóteses temáticas tais como:
- Máquinas hauntológicas e genealogias operacionais: da characteristica universalis aos modelos de linguagem contemporâneos (LLMs) e arquiteturas multimodais;
- Generatividade e suas sombras
- A máscara do autor & escritores-fantasma de IA
- Infraestruturas cibernéticas de monstros hiper-racionais: dispositifs estatísticos para além do sono da razão na teoria dos media;
- Arquivos transmediáticos e traços espectrais em corpora de treinamento de IA: imagens, vozes, gestos como substratos computacionais;
- Estacas, substratos e plataformas: condições materiais do raciocínio algorítmico nas artes dos media e na escrita automatizada;
- Tokenização como infraestrutura de media: codificações técnicas, viés linguístico e restrições computacionais;
- De redes de discurso a paradigmas coneccionistas: escavações arqueológico-mediática de rupturas epistémicas "maquínicas";
- Mediação performativa e negatividade medial em sistemas de escrita automatizada e artes generativas dos media;
- Ecologias maquínicas e temporalidades hipofenomenais versus lentidão e ponderação humanas;
- Diálogo versus solilóquio de IA: a ausência de presença intercorporal em sistemas generativos;
- Abordagens arqueológico-mediáticas da poesia cibernética: da arte computacional primitiva aos modelos neurais contemporâneos;
- Arte(f)actos e imagens operacionais na IA multimodal: perspectivas da teoria dos media sobre o fazer versus o mostrar;
- Intervenções de artes dos media na exposição de epistemologias maquínicas em experimentos generativos contemporâneos.
As propostas poderão abordar estes temas por via teórica, historiográfica, crítica ou prática, incluindo estudos de caso, reflexões metodológicas ou ensaios visuais.
Chamada para artigos: até 5 de Janeiro de 2026
Comunicação das decisões aos autores: final de Fevereiro de 2026
Segunda ronda de revisão e edição: final de Março de 2026
Publicação: Abril de 2026
Editores do número: José Gomes Pinto (Universidade Lusófona) e Alexander Gerner (Universidade Lusófona)
Por favor, consulte as informações de registo e submissão em: https://revistas.ulusofona.pt/index.php/caleidoscopio/about/submissions.