1ª PARTE - VULCÃO

  • Mário Chagas Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Resumo

1. Há uma gota de sangue em cada museu: preparando o terreno.

(...) a coleção e seu sinal de sangue; a coleção e seu risco de tétano; a coleção que nenhum outro imita. Escondo-a de José, por que não ria nem jogue fora esse museu de sonho.

Carlos Dummond de Andrade (apud Pessanha [1989:1])

 

Assim como M.A. reconhece e afirma que Há uma gota de sangue em cada poema, assim também, parafraseando o poeta, queremos reconhecer e sustentar que há uma gota de sangue em cada museu.

A possibilidade da paráfrase ancora-se no reconhecimento de que há uma veia poética1 pulsando nos museus e na convicção de que tanto no poema quanto no museu há “um sinal de sangue” a lhes conferir uma dimensão especificamente humana. Este “sinal de sangue” é também um inequívoco sinal de historicidade, de condicionamento espaço-temporal. Admitir a presença de sangue no museu significa também aceitá-lo como arena, como espaço de conflito, como campo de tradição e contradição. Toda a instituição museal apresenta um determinado discurso sobre a realidade. Este discurso, como é natural, não é natural e compõe-se de som e de silêncio, de cheio e de vazio, de presença e de ausência, de lembrança e de esquecimento.

 

2. Os museus e o sonho: panorama museológico brasileiro no século XIX e início do século XX.

Os museus fazem parte, de modo claro, da casa de sonhos da coletividade.

Walter Benjamin (apud Montpetit [1992:84])

Cada geração se viu forçada a interpretar esse termo - Museu - de acordo com as exigências sociais de época.

Francis Taylor (apud Mendonça [1946: 12])

Museus, arquivos e bibliotecas espalhados por todo o mundo. Monumentos erguidos nas mais distantes cidades. Festas e exposições nacionais e internacionais celebrando datas, fatos e acontecimentos prodigiosos desvinculados de causas e conseqüências, mas capazes de criar uma dramaturgia própria, uma teatralização de memória. Como sugere J. Le Goff (1984: 37) o século XIX assistiu a uma verdadeira “explosão do espírito comemorativo”. É dentro desse espírito que os museus proliferam e alcançam o século XX (Suano[1986: 49]).

 

3. Problematizando: mar (ou) rio de andrade?

Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos.

Heráclito de Éfeso

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Como Citar
Chagas, M. (1). 1ª PARTE - VULCÃO. Cadernos De Sociomuseologia, 13(13). Obtido de https://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/323