Narrativas silenciadas: uma abordagem de Museologia Social no Museu Nacional dos Coches

Abstract

O Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, conserva uma coleção de viaturas de gala e de passeio amplamente reconhecida pelo seu valor técnico e artístico. Reflete os contextos sociais, políticos e ideológicos da sua época, pelo que preserva vestígios do colonialismo. Este artigo propõe uma leitura crítica da coleção à luz do passado colonial europeu, com especial enfoque no caso português. Procura-se identificar as manifestações diretas e simbólicas do colonialismo nas viaturas expostas, analisando os contextos históricos da sua criação e utilização, bem como os elementos decorativos que as ornamentam, responsáveis por materializar e celebrar uma visão eurocêntrica, estereotipada e hierárquica do mundo.

A investigação percorre diferentes épocas e regimes políticos, desde o reinado de D. João V, marcado pelo afluxo de ouro do Brasil e pelo incremento do tráfico de pessoas escravizadas; passando pelas transformações operadas pela Revolução Industrial; até à apropriação iconográfica durante o Estado Novo, quando uma das viaturas foi reproduzida e utilizada como instrumento de propaganda. Ao questionar as narrativas dominantes e expor os silêncios da história, este trabalho visa contribuir para o debate em torno da descolonização das instituições culturais. Propõe-se, assim, um novo olhar sobre a coleção, alinhado com os princípios da Museologia Social, que privilegia a participação crítica e a construção de narrativas plurais. Mais do que valorizar a dimensão estética ou funcional das viaturas, pretende-se desconstruir os discursos imperiais que estas veiculam e promover abordagens museológicas mais inclusivas, conscientes e socialmente comprometidas.

Palavras-chave: Colonialismo; Iconografia; Museu Nacional dos Coches; Museologia Social; Novas Narrativas