A deturpação de conceitos jurídicos em regimes antidemocráticos:
A perigosidade e as medidas de segurança em Portugal
Resumo
Em épocas ditatoriais, a restrição de direitos é regra: seja pela censura direta, pelo controle de reuniões ou pela manipulação dos meios de comunicação, o que importa para o Regime é a sua manutenção. Diante disso, a instrumentalização de institutos legais e a utilização discricionária de conceitos jurídicos é uma tática conhecida.
O presente artigo examina como se formou e como foi deturpada a noção de perigosidade criminal no intuito de justificar medidas de segurança que, por estarem dissociadas da culpabilidade individual, encontraram uma forma de se prorrogar indefinidamente, servindo aos interesses do Regime. Mais do que isso, busca-se compreender como o Estado Novo português, por meio dos seus instrumentos legais, conseguiu consolidar mecanismos absolutamente repressivos e neutralizar opositores políticos sob o pretexto de segurança pública, por meio das medidas de segurança.
Downloads
Referências
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de, «A consagração de um novo direito securitário na reforma prisional de 1936», in Liber Discipulorum para Jorge de Figueiredo Dias, Coimbra: Coimbra Editora, 2003, pp. 433-477
ANTUNES, Maria João, Medida de segurança de internamento e facto de inimputável em razão de anomalia psíquica. Coimbra: Coimbra Editora, 2002.
ANTUNES, Maria João, Penas e Medidas de Segurança. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 2024.
BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas. Tradução J. Cretella Jr. e Agnes Cretella I. - 2. ed. rev., 2. tiro - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999
BRASIL, Código Penal - Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, in https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm (acesso 20/04/2025).
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Informativo nº 675 de 14 de agosto de 2020.675, in https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?livre=@CNOT=017728 (acesso 20/01/2025).
BRUNO, Aníbal, Perigosidade Criminal e Medidas de Segurança. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1977.
CALDEIRA, Felipe Machado, «A Evolução Histórica, Filosófica e Teórica da Pena» in Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 12, nº 45, pp. 255 - 272.
CARVALHO, Salo de, Penas e Medidas de Segurança no direito penal brasileiro: Fundamentos e Aplicação Judicial. São Paulo: Saraiva, 2013
CONDE, Francisco Muñoz, Edmund Mezger y el Derecho penal de su tiempo - Estudios sobre el Decrecho penal en el Nacionalsocialismo. 4ª ed. Valencia: Tirant lo blanch, 2003
CONDE, Francisco Muñoz, «El proyecto nacionalsocialista sobre el tratamiento de los “extraños a la comunidad”», in La ciencia del derecho penal ante el nuevo siglo: Libro Homenaje Al Profesor Doctor Don Jose Cerezo Mir. Madrid: Tecnos Editorial SA, 2002, pp. 42-58.
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal: Parte Geral - Tomo I. 3ª ed., Coimbra: Gestlegal, 2019.
ENIPSA, Conceito de pessoa em situação de sem-abrigo. Disponível em: <https://www.enipssa.pt/conceito-de-pessoa-em-situacao-de-sem-abrigo>. Acesso em: 20/01/2025.
LÁZARO, Maria Antónia; MALHEIROS, Macaísta, Medidas de Segurança - a construção do Estado totalitário. in https://memorial2019.org/node/26936 (acesso 20/01/2025).
LEBRE. Marcelo, “Medidas de Segurança e Periculosidade Criminal: medo de quem?”, Responsabilidades, v. 2, n. 2, (2013)
LISZT, Franz von, Tratado de direito penal allemão - vol. 1; tradução José Hygino Duarte Pereira. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2006.
LOPES, José Guardado, «Achegas para a História do Direito Penitenciário Português» in Separata do Boletim do Ministério da Justiça, n.º 430, Lisboa, 1995.
MECLER, Kátia, «Periculosidade: Evolução e aplicação do conceito» in Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, vol. 20, n.º 1, 2010. Disponível em: <https://revistas.usp.br/jhgd/article/view/19945/22025>. Acesso em: 20/01/2025.
PETROCELLI, Biagio, La Pericolositá Criminale e la sua Posizione Giuridica. Padova: Casa Editrice Dott. Antonio Milani, 1940.
PIMENTEL, Irene, O Tribunal Plenário, instrumento de justiça política do Estado Novo, in https://jugular.blogs.sapo.pt/1728394.html (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Código Penal - Decreto Lei 48/95, in https://diariodarepublica.pt/dr/legislacao-consolidada/decreto-lei/1995-34437675 (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Constituição da República Portuguesa de 1933, in https://www.parlamento.pt/parlamento/documents/crp-1933.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 22.992, de 29 de Agosto de 1933, in https://files.dre.pt/1s/1933/08/19500/15831585.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 26.643, de 28 de Maio de 1936, in https://files.diariodarepublica.pt/1s/1936/05/12400/05810625.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 35.042 de 20 de Outubro de 1945, in https://files.dre.pt/1s/1945/10/23300/08390850.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 35.044 de 20 de Outubro de 1945, in https://files.diariodarepublica.pt/1s/1945/10/23300/08530855.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 35.046 de 22 de Outubro de 1945, in https://memorial2019.org/sites/default/files/media/document/DL_35046.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 37.447, de 13 de Junho de 1949, in https://files.diariodarepublica.pt/1s/1949/06/12600/04130415.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Decreto-lei 40.550 de 12 de Março de 1956, in https://files.diariodarepublica.pt/1s/1956/03/05200/03210324.pdf (acesso 20/01/2025).
PORTUGAL, Tribunal Constitucional. Acórdão nº 43/86, Processo nº 100/85, 2.ª Secção, Relator: Conselheiro Mário Afonso, 19 de Fevereiro de 1986, in https://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/19860043.html?impressao=1 (acesso 20/01/2025)
ROUSSEAU, Jean-Jacques, «O contrato social» in Oeuvres completes, tome III, Collection “Pléíade”. Paris: Gallimard, 1757.
SANTOS, José Beleza dos. Nova Organização Prisional Portuguesa: Alguns Princípios e Realizações, Coimbra: Coimbra Editora, 1946.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
Direitos de Autor (c) 2025 De Legibus - Revista de Direito da Universidade Lusófona Lisboa

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
![]()
Assegura-se aos potenciais leitores o acesso livre e gratuito do conteúdo editorial, estando autorizada a sua reprodução total ou parcial, conforme a licença CC BY 4.0 (Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional)


