Editorial: Sociomuseologia e Educação: releituras de Paulo Freire
Resumo
Este número do Cadernos de Sociomuseologia, intitulado “Sociomuseologia e Educação: releituras de Paulo Freire” insere-se nas celebrações internacionais do centenário de nascimento do educador, filósofo da educação, educador popular, professor universitário e homem do mundo, Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) e, propõe-se evidenciar como o pensamento e a práxis freiriana podem sustentar uma parte da teoria e da prática Sociomuseológica.
Paulo Freire com sua filosofia educativa e sua proposta de educação cidadã é atualmente um dos três intelectuais mais citado no mundo académico. Sua vasta e importante obra é reconhecida pelo compromisso com a emancipação das pessoas por meio da educação crítica, libertadora e dialógica. É responsável por conceitos como “esperançar”, “inéditos viáveis”, “conscientização”, “dialogicidade”, “corpos conscientes” que até aos dias de hoje inspiram estudantes, educadores, profissionais, intelectuais e ativistas que, comprometidos com a equidade e emancipação social, atuam em prol de processos educativos horizontalizados.
Mesmo em plena pandemia da Covid-19, onde a educação passou por uma enorme crise mundial, sendo posto em causa o seu papel como elemento de socialização em virtude do isolamento necessário para a sobrevivência das pessoas, as comemorações e homenagens ao centenário de Paulo Freire nunca foi posta em causa. Vimos que internacionalmente, em torno do seu centenário, foram realizados Congressos, Seminários, Colóquios, Plenárias, Palestras, Podcast, Marchas Amorosas, Shows, Lançamentos de Livros, Edições de revistas científicas, atos que se pretendiam políticos, culturais, educativos e pedagógicos. Por tudo isso, estivemos inseridos nestas comemorações por meio de organização de Seminários Pós-graduados, Congresso, Exposições e a edição deste número da revista dos Cadernos de Sociomuseologia.
Os artigos desta edição são resultantes de intervenções nos Seminários públicos ocorridos ao longo do ano de 2021 no âmbito do Grupo de Estudos pós-graduados “Sociomuseologia + Paulo Freire”, o qual está inserido na Cátedra UNESCO-ULHT “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural” e conta com a tutoria científica do Projeto de Investigação FCT “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural: Teoria e Prática da Sociomuseologia” CEECIND/04717/2017. O Grupo conta com o apoio do Departamento de Museologia da Universidade Lusófona e tem as suas atividades e I&D associadas ao CeiED – Centro de Estudos Interdisciplinares de Educação e Desenvolvimento. São textos que apresentam uma reflexão a partir de experiências Sociomuseológicas e Educativas em território brasileiro, português e caboverdiano numa proposta de atualização e reimaginação do pensamento Freiriano aplicado ao contexto museológico e educativo
Os textos reunidos, discutem a práxis educativa em processos emancipatórios nas áreas da museologia e da educação. São artigos que procuram refletir sobre as contribuições de Paulo Freire para as ações sociomuseológicas e educativas no que toca a investigação e a reciprocidade de saberes entre as instituições educativas e museológicas com a sociedade civil. Artigos que foram produzidos durante a Pandemia da Covid-19, onde a educação, como uma ação socializadora e partilhada em contexto escolar, foi posta em causa em prol da salvaguarda da vida, onde as ações de uma museologia comprometida com a preservação da vida, ganhou relevo e assumiu protagonismo.
Neste contexto de isolamento social a educação dialógica e participativa proposta por Freire, esteve em risco, mas paulatinamente tornou-se cada vez mais evidente a necessidade de analisarmos, pensarmos e agirmos coletivamente em prol de uma sociedade menos desigual. A educação comprometida com as transformações sociais, culturais e políticas contribui para mudar realidades, transformar mentes e corações, podendo assim salvar e salvaguardar vidas.
Assim, esta edição da Revista Cadernos de Sociomuseologia busca refletir sobre e a partir da educação freireana num processo assumidamente antropofágico em que se anuncia de forma coletiva uma museologia “dialógica”, a partir da “escuta sensível”, assumindo o “Sulear” dos nossos códigos culturais, o “esperançar” de corpos conscientes e geradores e que nos obrigam a continuar a acreditar em “inéditos viáveis”.
Para discorrer sobre estes temas, este número dos Cadernos de Sociomuseologia foi organizado em três partes, cada uma delas organizada a partir de um conjunto de textos que refletem a dimensão teórica e aplicada da metodologia freireana em processos educativos, museológicos, patrimoniais e associativos desenvolvidos em Portugal, Brasil e Cabo Verde. Cada uma das partes busca ampliar as nossas percepções em torno da potência do legado de Paulo Freire no que toca a educação popular, a museologia e sua ação e função educativa, assim como os movimentos sociais e a dimensão menos institucionalizada dos processos educativos.
A primeira parte apresenta-se sob o título “Paulo Freire em diálogo(s) viáveis com a(s) Museologia(s)” que visa promover a interlocução da Museologia com os pressupostos Freireano. Parte composta por artigos que transitam pelos caminhos da Acessibilidade Cultural, da construção de futuros inéditos, das aprendizagens pejadas de amorosidade, dos encontros dialógicos passando pelos museus comunitários, das tensões nas relações entre educação e museologia na divulgação científica e do compromisso da reciprocidade de saberes entre comunidade e academia.
Sob o título “Educação Popular, Diversidade e Memória na construção da Cidadania” apresenta-se a segunda parte deste número e visa propor uma releitura de Freire na contemporaneidade por meio do trabalho desenvolvido do por coletivos, OGN´s, associações, e movimentos sociais. É nesta parte que poderemos encontrar alguns contributos da pedagogia Freirena nos movimentos em prol da educação popular, patrimonial, dialógica e democrática comprometida com a Esperança como verbo.
Em busca dos impactos Freireano nas práticas reimaginadas do contemporâneo, temos a terceira parte deste ´número da revista que se intitula “Andarilhagens, Caminhos e Trajetórias de educadores Freireanos” onde é possível encontrar três testemunhos de profissionais implicados com a educação com ferramenta de mudança profunda na sociedade. Testemunhos que nos mostram a dimensão lusófona e anticolonial do Freire, seu compromisso com a criticidade, a liberdade e a humanização dos processos educativos. Testemunhos que nos conduzem pelos caminhos da lusofonia, apresentando-se nos cenários educativos de Portugal, Brasil e Cabo verde.
Que este número dos Cadernos de Sociomuseologia inspire leituras e intervenções crítica sobre o mundo, capazes de alimentar o esperançar de processos educativos mais dialógicos e emancipadores.
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