Chamada de artigos | Discursos institucionais de autoridade sobre a Escola e os sistemas educativos: circulação e (re)produção de sentidos na investigação em educação

2022-06-07

Editores convidados: Luís Manuel Bernardo (CHAM, Universidade Nova de Lisboa, Portugal), Daniel Bart (Théodile-CIREL, Université de Lille, França) e Teresa Teixeira Lopo (CeiED-OP.Edu, Universidade Lusófona, Portugal)

 

Nota de apresentação

Vários autores têm destacado o efeito dos discursos de instituições internacionais sobre a Escola e os sistemas educativos nos discursos nacionais, focando-se, sobretudo, nos discursos produzidos por instituições sem mandato legal, em que o discurso funciona como veículo de comunicação e de influência para a definição, legitimação e reconhecimento da sua autoridade[1]. Outros trabalhos de investigação, centrados na análise do funcionamento discursivo desses textos, têm evidenciado a sua perda de sentido pela redução discursiva, reforçando uma visão despolitizada da educação, ou próxima do senso comum, e a contradição entre a pretensão de cientificidade desses discursos e o caracter  tautológico, os truísmos e até o nonsense revelado pelos seus enunciados[2].

No âmbito desta chamada, entendemos o discurso de autoridade sobre a Escola e os sistemas educativos, em sentido lato, isto é, como aquele que é capaz de se impor como modo de evidência, de neutralidade e de consenso e, simultaneamente, como dissuasor do questionamento e da discussão[3]. Partindo de uma distinção conceptual em que texto designa o artefacto/documento e discurso o meio de ação, aquilo que o texto produz quando se manifesta numa instância discursiva[4], situamos o discurso institucional como um tipo de discurso autorizado sobre a educação capaz de produzir reconhecimento, visibilidade ou uma proeminência específica, em função da inscrição dos seus enunciadores numa comunidade/instituição discursiva particular.

Neste enquadramento, esperam-se contribuições para este dossiê que problematizem (a lista não é exaustiva):

  1. O funcionamento discursivo e os mecanismos de construção da autoridade nos discursos institucionais sobre a Escola e/ou os sistemas educativos;
  2. A receção dos discursos institucionais de autoridade pela comunidade científica das ciências da educação e os efeitos produzidos no discurso da investigação em educação;
  3. O contradiscurso sobre a Escola e/ou os sistemas educativos, o seu funcionamento discursivo e os seus limites;
  4. Casos e contextos específicos de utilização ou de discussão de discursos de autoridade na educação;
  5. Representações, figuras, agentes, tipos de textos suscetíveis de gerar discursos de autoridade na educação;
  6. A contribuição dos investigadores em educação para as diferentes formas de discursos institucionais de autoridade sobre a Escola e os sistemas educativos: relatórios de organizações internacionais ou nacionais, currículos, avaliações escolares, prescrições profissionais, livros didáticos, formação de professores, etc.;
  7.  Os posicionamentos e a circulação dos atores da educação (investigadores, peritos, políticos, dirigentes, professores, formadores, ativistas, etc.) nos lugares de elaboração dos discursos de autoridade sobre a Escola e o questionamento das suas fronteiras.

 

Línguas de submissão dos textos: português, francês, inglês e castelhano

 

Datas importantes:

Submissão: até 30 de novembro de 2022

Avaliação:  até 28 de fevereiro de 2023

Publicação: durante o primeiro semestre de 2023

Os/as autores/as deverão apresentar uma proposta entre um mínimo de 30.000 e um máximo de 40.000 caracteres com espaços, incluindo resumos em português, francês, inglês e castelhano (1200-1500 caracteres com espaços), gráficos, quadros, imagens, notas de fim de texto e referências bibliográficas (máximo de 25). Consulte as regras de submissão em:   https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/about/submissions

E-mail para envio dos artigos: rle.call.dtd@gmail.com

Todos os trabalhos serão submetidos à apreciação da Comissão Editorial da revista e sujeitos a uma revisão cega por pares. No entanto, os editores convidados reservam o direito de tomar as decisões finais quanto à sua publicação. Serão selecionados sete artigos para este dossiê temático.

[1] Ver por exemplo: Berkovich, I., & Benoliel, P. (2020) The educational aims of the OECD in its TALIS insight and lesson reports: Exploring societal orientations. Critical Studies in Education61(2), 166-179; Lopo, T.T. (2021). The political decision on Portugal’s entry into PISA: A research note. Policy Futures in Education,19(6) 723-729; Mundy, K., Green, A., Lingard, R., & Verger, A. (Eds.). (2016). Handbook of global education policy. Wiley-Blackwell; Robertson, S. (2012). Placing teachers in global governance agendas. Comparative Education Review, 56(4), 584–607.

[2] Ver por exemplo: Bart, D. (2015). Le discours de la recherche dans le Programme international de suivi des acquis des élèves: Un mode d’exposition pour un effet d’imposition? Revue Française de Pédagogie, 191(2), 89-100; Bart, D., & Daunay, B. (2016). Les blagues à PISA. Le discours sur l’école d’une institution internationale. Éditions du Croquant; Bernardo, L. M. (2010). À volta da hibridez discursiva: Questões de textualidade e educação. Itinerários de Filosofia da Educação, 9, 119-152; Bernardo, L. M. (2016). Mal-estar na educação: O declínio do humanismo. In M. G. Alves, L. L. Torres, B. Dionísio, & P. Abrantes (Eds.), A educação na Europa do Sul, constrangimentos e desafios em tempos incertos (pp. 42-56). FCSH-UNL; Perrot, M.-D. (2001). Mondialiser le non sens. L'Age d'Homme.

[3] Ver por exemplo: Krieg-Planque, A. (2017). Analyser les discours institutionnels. Armand Colin; Monte, M., & Oger, C. (2015). La construction de l’autorité en contexte. L’effacement du dissensus dans les discours institutionnels. Mots. Les langages du politique, 107, 5-18; ou Oger, C. (2021). Faire référence. La construction de l’autorité dans le discours des institutions. Editions EHESS.

[4] Aceção que encontramos em: Oger, C., & Ollivier-Yaniv, C. (2003). Analyse du discours institutionnel et sociologie compréhensive: Vers une anthropologie des discours institutionnels. Mots. Les langages du politique,71, 125-145; ver também: Saarinen, T. (2008). Position of text and discourse analysis in higher education policy research. Studies in Higher Education, 33, 719 -728.