CALL PARA DOSSIÊ TEMÁTICO | A docência enquanto profissão intergeracional: contributos da diversidade geracional para a formação e o desenvolvimento profissional docente

2025-09-21
Editoras convidadas

Atualmente, a profissão docente, em várias partes do mundo, enfrenta um crescente fosso geracional: por um lado, observa-se a escassez de jovens a ingressar na carreira docente; por outro, uma parte significativa dos professores aproxima-se da reforma ou já se encontra nas últimas fases da sua trajetória profissional. Num dos extremos deste espectro, verifica-se uma diminuição de candidatos aos cursos de formação de professores - fenómeno associado à perda de atratividade da profissão (Thomas Dotta et al., 2025); no outro extremo, o corpo docente está a envelhecer, com países como Portugal a verificar uma proporção significativa de professores com pelo menos 50 anos de idade (European Commission/EACEA/Eurydice, 2021).

Apesar da aparente desconexão demográfica entre gerações de docentes, numerosos modelos de desenvolvimento profissional estruturam-se em torno da aprendizagem intergeracional, nomeadamente através de programas de indução e mentoria (Brücknerová & Novotný, 2017), sublinhando tanto a sua relevância quanto o seu potencial para promover o desenvolvimento profissional de professores em diferentes fases da carreira. Considerando que as rápidas transformações e desafios da sociedade contemporânea têm inevitavelmente impacto na profissão docente, torna-se necessário, talvez mais do que nunca, um processo contínuo e articulado de desenvolvimento profissional, capaz de responder às necessidades dos docentes ao longo de todo o seu percurso profissional (Kowalczuk-Walędziak et al., 2022). Com efeito, a profissão docente não se baseia num corpo de saberes fixo e imutável, mas antes numa articulação complexa de saberes - teóricos, pedagógicos, práticos e experienciais - que se constroem e renovam continuamente ao longo do percurso profissional dos professores.

A vitalidade contínua destes saberes pode ser sustentada através de diálogos intergeracionais, entendidos como meios para potenciar a transferência de conhecimentos, fomentar a aprendizagem mútua, prevenir a perda de saberes partilhados e contribuir para o desenvolvimento profissional docente (Lopes & Thomas Dotta, 2024). Estes diálogos oferecem aos futuros professores e docentes em início de carreira oportunidades de socialização e apoio por parte de professores mais experientes (Lopes & Sousa, 2024; Lopes, 2009); por sua vez, proporcionam também aos docentes mais experientes a possibilidade de reconfigurarem as suas práticas à luz das perspetivas e competências dos seus colegas mais jovens. Neste sentido, a promoção de interações significativas entre professores de diferentes idades e fases da carreira - por exemplo, através de programas de mentoria ou comunidades de prática (Sousa et al., 2020; Wenger, 1998) - pode ter um impacto substancial e positivo na construção das identidades profissionais e no desenvolvimento profissional dos professores (Lopes et al., 2016). No entanto, em diversos contextos escolares e formativos, estas interações são ainda insuficientemente promovidas ou estruturadas, perdendo-se oportunidades valiosas de aprendizagem colaborativa.

Este número especial propõe-se estimular um debate aprofundado sobre os modos como as relações entre diferentes gerações de professores podem ser reconhecidas, incentivadas e integradas intencionalmente nos contextos e processos de formação de professores e de desenvolvimento profissional docente. Serão bem-vindos artigos que apresentem evidência empírica, bem como propostas inovadoras e aplicadas que possam inspirar práticas pedagógicas e políticas educativas atentas à natureza intergeracional - e ao potencial transformador - da profissão docente.

Eixos temáticos
  • Diálogos intergeracionais na formação inicial de professores
  • Saberes experienciais, saberes emergentes e a mediação intergeracional
  • Aprendizagem intergeracional e desenvolvimento profissional ao longo da carreira
  • Políticas, modelos e contextos formativos promotores de interação intergeracional
  • Desafios contemporâneos e oportunidades para o diálogo intergeracional na docência
Prazos

Submissão de resumos: até 30 de novembro de 2025

Avaliação: até 31 de janeiro de 2026

Publicação: março de 2026

Os artigos devem ser enviados para o seguinte e-mail: rle.intergenerationaldialogues@gmail.com

Normas

Os/as autores/as deverão apresentar uma proposta de artigo entre um mínimo de 30.000 e um máximo de 40.000 caracteres com espaços, incluindo resumos em português, francês, inglês e castelhano (1200-1500 caracteres com espaços) e 3 a 5 palavras-chave.

Gráficos, quadros, imagens devem ser gravados em ficheiros separados e gravados em formato jpeg.

Referências bibliográficas no estilo APA 7ª edição.

Consulte as regras de submissão em:

https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/about/submissions 

Todos os trabalhos serão submetidos à apreciação dos editores convidados, sujeitos a uma revisão cega por pares. Serão selecionados até 10 artigos para este dossier temático.

Línguas de submissão dos textos: Português, Francês, Inglês e Castelhano

Referências
  • ücknerová, K. & Novotný, P. (2017) Intergenerational learning among teachers: overt and covert forms of continuing professional development. Professional Development in Education, 43(3), 397-415, https://doi.org/10.1080/19415257.2016.1194876
  • European Commission/EACEA/Eurydice (2021). Teachers in Europe: Careers, development and well-being. Eurydice Report. Publications Office of the European Union. https://doi.org/10.1080/19415257.2016.1194876
  • Korzeniecka-Bondar, A., Kowalczuk-Walędziak, M., Kędzierska, H. (2023). Teacher Education in Poland: Contested Terrains Between Policy and Practice. In M. Kowalczuk-Walędziak, R. A. Valeeva, M. Sablić, , & I. Menter, (Eds.), (2023). The Palgrave handbook of teacher education in Central and Eastern Europe (pp. 83–108). Palgrave Macmillan.
  • Lopes, A. & Sousa, R. T. (2024). Identidades docentes perspetiva ecológica e investigação: desafios para a formação de professores. In S. B. Silva, J. M. Sancho-Gil & F. Hernández-Hernández (Orgs.), Docentes pesquisadores: epistemes e metodologias (pp. 55-70). EDUFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/38719
  • Lopes, A. & Thomas Dotta, L. (Coords.), Freitas, A.& Sousa, R.T. (Eds.) (2023). Passado e Futuro da Profissão Docente: Diálogos Intergeracionais. Centro de Investigação e intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. https://ciie.fpce.up.pt/pt/ebooks/passado-e-futuro-da-profissao-docente-dialogos-intergeracionais
  • Lopes, A. (2009). Teachers as professionals and teachers’ identity construction as an ecological construct: An agenda for research and training drawing upon a biographical research process. European Educational Research Journal,, 8(3), 461-475. https://doi.org/10.2304/eerj.2009.8.3.461
  • Lopes, A., Pereira, F., Fernandes, P., Dotta, L. T. & Sousa, R. T. (2016). How can teacher education fulfill its more generous intentions? Reflections concerning the pernicious effects of educational evaluation. In A. Montgomery & I. Kehoe (Eds.), Reimagining the purpose of schools and educational organisations: Developing critical thinking, agency, beliefs in schools and educational organisations (pp. 207-219). Springer.
  • Sousa, R.T., Lopes, A. & Boyd, P. (2020). Initial Teacher Education and the relationship with research: student teachers’ perspectives. Studia Paedagogica, 25(2), 161-179. https://doi.org/10.5817/SP2020-2-8
  • Thomas Dotta, L., Rodrigues, S., Joana, L. and Carvalho, M.J. (2025). The attractiveness of the teaching profession: an integrative literature review. Front. Educ. 9 (1380942). https://doi.org/10.3389/feduc.2024.1380942
  • Wenger, E. (1998). Communities of practice: Learning, meaning and identity. Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511803932