Os saberes e poderes da reforma de 1905
Resumo
Neste artigo, revisitamos a reforma de 1905 ao
nível das inovações curriculares e dos dispositivos
pedagógicos que a singularizaram. Como enfoques
metodológicos, assumimos o currículo enquanto
construção social, e estabelecemos uma conexão
entre pedagogia do poder e do saber, na linha de
Nietzsche e de Foucault de que, por detrás de
todo o saber, o que está em jogo é uma luta de
poder, estando o poder político intrinsecamente
correlacionado com o saber. Abordamos, num
primeiro momento, a nova configuração curricular
proposta por este diploma - elaborado pelo
director geral de Instrução Pública, Abel Andrade,
e promulgado pelo ministro do Reino, Eduardo
José Coelho - e colocamos em evidência, por um
lado, os mecanismos que fizeram com que a educação física integrasse definitivamente o currículo
dos alunos do liceu e, por outro, a forma como abriu caminho para um novo conhecimento e para
uma nova construção do corpo. Num segundo
momento, relevamos a importância do que designamos por novos mecanismos de regulação onde incluímos o caderno diário, o incentivo à prática
pedagógica de arquivar e expor os trabalhos dos
alunos e a cooperação entre o liceu e a família. Por
fim, concluímos que esta reforma deve ser vista
em articulação com a reforma anterior de Jaime
Moniz e que ambas acabam por corresponder a
duas peças fundamentais do movimento reformista
cuja aposta, em última análise, era a formação da
futura elite governante.
Palavras-chave: Reforma; configuração
curricular; educação física; saber; poder.